Tipos de Samadhi
- Admin
- 20 de jul.
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Tipos de samprajñata samādhi: savitarka, savichara, sānanda e sāsmitā
No caminho do Yoga descrito por Patañjali nos Yoga Sūtras, o samādhi representa o estágio final da prática meditativa, onde a mente se dissolve na experiência do objeto contemplado. O samprajñāta samādhi (ou samādhi com consciência discriminativa) é um dos dois tipos principais de samādhi — sendo o outro o asamprajñāta samādhi (samādhi sem consciência ou além da mente).
O samprajñāta é caracterizado pela presença de consciência e envolve um processo de concentração profunda sustentada em um objeto. Ele se desdobra em quatro níveis progressivos, que refletem o refinamento da mente meditativa:
1. Savitarka Samādhi – com raciocínio (vitarka)
Neste estágio, a mente ainda está engajada com objetos mais grosseiros e materiais, como formas, sons ou mantras. A meditação é acompanhada de vitarka (raciocínio ou análise conceitual). O praticante observa, compara, nomeia e reconhece o objeto.
Exemplo: meditar em uma imagem de uma divindade, na respiração ou em um som como o “Om”, refletindo sobre seus significados.
Este samādhi ainda está ligado ao funcionamento mental discursivo, embora concentrado. Há uma fusão da mente com o objeto, mas ainda com atividade intelectual sutil.
2. Savichara Samādhi – com reflexão (vicāra)
Aqui a meditação se aprofunda em objetos sutis, como os princípios da natureza (tattvas), energia, ou até conceitos abstratos como tempo, espaço, ou o sentido do "eu". A mente já transcendeu o raciocínio grosseiro e está em vicāra, um tipo de contemplação mais refinada.
Exemplo: contemplar o prāṇa, o éter (ākāśa), ou as leis do cosmos.
Esse estágio envolve introspecção silenciosa, ainda com traços de dualidade entre o sujeito e o objeto, mas já mais interiorizada e estável.
3. Sānanda Samādhi – com bem-aventurança (ānanda)
Quando a mente se torna tão refinada que se desapega dos objetos concretos e conceituais, ela repousa em uma sensação de ânanda, ou beatitude. Aqui, o objeto da meditação pode ser o próprio estado de êxtase, serenidade ou devoção.
O meditante experimenta um estado de bem-aventurança que não depende de estímulos externos, mas é fruto da concentração em níveis sutis do ser.
A mente se estabelece num estado de alegria pura e tranquila, sem a necessidade de pensamento discursivo ou análise.
4. Sāsmitā Samādhi – com senso do “eu sou” (asmitā)
Este é o estágio mais elevado dentro do samprajñāta samādhi. Aqui, o foco da meditação está no sentido puro de “existir” — asmitā, o senso do "eu sou", desprovido de ego, pensamentos, ou objetos externos.
Não é o ego (ahaṅkāra), mas uma percepção direta da existência consciente, ainda limitada, porém extremamente refinada.
É uma experiência de identidade com o princípio de consciência individual, o puruṣa, mas ainda não há a liberação total (kaivalya), pois resta o traço sutil do “eu sou”.
Considerações Finais sobre samprajñāta samādhi
Esses quatro tipos de samādhi são estágios progressivos de refinamento da mente na prática yogue. Do envolvimento com objetos externos à contemplação da consciência pura, eles refletem o aprofundamento da atenção, do desapego e da clareza interior.
Após dominar essas etapas, o praticante pode entrar no asamprajñāta samādhi, onde até mesmo o senso de individualidade se dissolve, e o ser se funde com a realidade última, sem qualquer traço de dualidade.
Esse caminho descrito por Patañjali é técnico, porém profundamente espiritual. Cada estágio convida à superação de camadas da mente rumo à liberdade suprema.
Asamprajñata Samādhi e os Estados Mentais: Śuddha, Citra, Vicittra, Ekāgra e Nirodha
No caminho do Yoga descrito por Patañjali nos Yoga Sūtras, o objetivo mais elevado é a cessação das flutuações mentais (citta-vṛtti-nirodha), culminando na realização do samādhi — o estado de absorção profunda da consciência. Entre os níveis de samādhi, dois se destacam: samprajñāta samādhi, que envolve consciência discriminativa, e asamprajñāta samādhi, que transcende completamente as atividades da mente. Este último é o estado supremo de silêncio interior e desapego absoluto.
Asamprajñāta Samādhi
Asamprajñāta samādhi é o estado de superconsciência sem suporte mental — ou seja, sem objeto de meditação. Aqui, até mesmo as formas mais sutis de conhecimento, prazer, ego e discernimento são deixadas para trás. A mente não repousa em nenhum conteúdo; ela se dissolve em si mesma. Esse estado é também chamado de nirbīja samādhi, o “samādhi sem sementes”, pois não deixa traços (saṃskāras) que perpetuam a dualidade ou a experiência do ego.
Esse samādhi é possível apenas quando todos os obstáculos e flutuações da mente foram transcendidos, e a consciência repousa em sua natureza pura, livre das impressões latentes (vāsanās). Para que esse estado surja, a mente deve passar por diferentes estágios de purificação e concentração, conhecidos como estados de citta.
Estados Mentais: Śuddha, Citra, Vicittra, Ekāgra e Nirodha
Estes estados representam diferentes qualidades e direções da mente (citta) no processo de purificação e concentração rumo ao samādhi.
1. Śuddha Citta (Mente Pura)
É o estado mais elevado antes do nirodha. A mente śuddha é clara, purificada e centrada na busca espiritual. Ela já não se distrai com objetos externos e está firmemente estabelecida na prática do Yoga. Nesse estágio, os apegos e aversões foram superados, e a mente está pronta para entrar nos estados de absorção profunda.
2. Citra Citta (Mente Diversificada)
Este é o estado da mente agitada, dispersa em múltiplas direções. É o estado comum na maioria das pessoas, onde desejos, memórias, emoções e pensamentos se misturam constantemente. A prática do Yoga começa justamente com o reconhecimento dessa condição e o trabalho para estabilizá-la.
3. Vicittra Citta (Mente Variada ou Alternante)
Nesta fase, a mente oscila entre momentos de calma e momentos de agitação. O praticante já tem alguma experiência meditativa, mas ainda não estabilizou completamente sua atenção. A mente ora repousa no objeto da meditação, ora se dispersa. Representa o estágio intermediário de progresso.
4. Ekāgra Citta (Mente Unidirecionada)
Ekāgra significa “um só ponto”. É a mente focada, estável, voltada exclusivamente a um único objeto. Este é o estado necessário para entrar em dhyāna (meditação profunda) e samādhi. A mente unipontual é poderosa, concentrada e não se distrai com estímulos externos ou internos.
5. Nirodha Citta (Mente Cessada)
É o ápice da disciplina mental. A mente em nirodha não apenas está livre de distrações, mas todas as modificações e impressões latentes foram suspensas. Nesse estado, a mente não age por conta própria — ela repousa completamente, tornando-se um canal puro da consciência. É nesse ponto que o asamprajñāta samādhi pode ocorrer.
Conclusão
O caminho até o asamprajñāta samādhi é exigente e profundo. Envolve a transição progressiva da mente de um estado disperso (citra) até um estado de dissolução (nirodha), passando por fases de alternância (vicittra), concentração (ekāgra) e pureza (śuddha). Cada estado mental representa um passo na jornada da consciência rumo à liberdade definitiva (kaivalya), onde o puruṣa (o ser essencial) brilha em sua natureza pura, livre da mente condicionada.
Essa compreensão é essencial não apenas como filosofia, mas como orientação prática para aqueles que trilham o caminho do Yoga com seriedade e devoção.
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